Uma breve introdução ao circuito do patrimônio africano do Rio de Janeiro

Uma breve introdução ao circuito do patrimônio africano do Rio de Janeiro
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Vídeo: O RIO AFRICANO 2024, Julho

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Anonim

Por trás do estilo de vida centrado na praia e da atmosfera ensolarada do Rio, existe uma complexa herança africana que moldou uma parte importante da história do Brasil. O Rio desempenhou um papel significativo no comércio de escravos do país no século XVIII e além, com traços desse passado sensível permanecendo na área portuária recentemente rejuvenescida da cidade e na movimentada região do centro.

Um fato relativamente desconhecido sobre o Rio de Janeiro é que ele já foi o maior porto de escravos do mundo, com um total de dois milhões de escravos passando pelo porto onde atualmente se encontra o museu mais popular do Rio - Museu do Amanhã. Muitos dos escravos vieram de Angola, Congo, Benguela e Moçambique, trazendo consigo uma herança africana que desempenha um papel significativo no cenário cultural do Rio hoje através da música, dança e religião. Esses africanos escravizados também são a razão por trás do Brasil ter a maior comunidade negra fora dos países da África.

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Como é hoje o ponto de comércio de escravos © Fabio Gonçalves / riotur / Flickr

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O tráfico de escravos era enorme no Rio de Janeiro no século 18, contribuindo para mais da metade da economia da cidade na época. A principal área da cidade onde ocorreu o tráfico de escravos agora é conhecida como Porto Maravilha - uma área degradada que foi restaurada pouco antes das Olimpíadas de 2016, tornando-se um dos novos centros culturais e artísticos mais emocionantes da cidade. As escavações que ocorreram durante a reconstrução da área revelaram os principais locais históricos que lançaram nova luz e interesse no passado da região.

O Cais do Valongo foi descoberto em uma dessas escavações e identificado como o principal cais construído para o comércio de escravos. Atualmente, é conhecida como Praça XV, uma grande praça famosa por festas de fim de semana e bandas ao vivo locais. A área circundante é conhecida como Complexo do Valongo, que compreende áreas importantes que representam o comércio de escravos. Os mais significativos incluem o Largo do Depósito, conhecido hoje como Praça dos Estivadores, onde os escravos eram comercializados. A Rua do Valongo foi construída para conectar o cais ao Largo do Depósito, a fim de levar os escravos para a área comercial.

Cais do Valongo © Alexandre Macieira | Riotur / Flickr

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Perto da Praça dos Estivadores ficavam as Casas de Engordas, um conjunto de pequenos prédios onde os escravos eram alimentados antes de serem vendidos. Um dos lugares mais emocionantes da região é o Cemitério dos Pretos Novos, uma casa que virou museu que é um memorial para 6.000 escravos que morreram na chegada ao Rio após a viagem pelo oceano e foram enterrados em uma cova rasa naquele local. No total, estima-se que haja aproximadamente 30.000 escravos enterrados na área.

Em 1843, o Cais da Imperatriz foi construído sobre o antigo cais para receber a futura esposa de Dom Pedro, rainha Teresa Cristina, no Rio. A essa altura, a escravidão ainda não havia sido abolida, mas era considerada uma prática condenada. O novo cais foi construído para ajudar a enterrar as lembranças negativas associadas à escravidão ocorrida naquele local. Outros pontos de referência construídos para esse fim incluem os Jardins Suspensos do Valongo, um jardim em estilo de classicismo grego com vista para a rua que costumava ser o ponto de comércio de escravos.

A vista da rua dos Jardins Suspensos do Valongo © Alexandre Macieira | Riotur / Flickr

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Um dos locais mais famosos que remonta aos antigos escravos do Rio é a Pedra do Sal, conhecida por suas festas de samba na noite de segunda-feira, onde moradores e viajantes se reúnem para saborear caipirinhas nas noites amenas e úmidas e ouvir as bandas de samba ao vivo. Séculos atrás, o mar chegava até as rochas da Pedra do Sal, e era o ponto em que os escravos descarregavam o sal que a colônia portuguesa trouxe para o Brasil. Mais tarde, tornou-se o principal lar dos escravos libertos - conhecida como Little Africa, onde os escravos africanos libertos ou escapavam praticavam capoeira, tocavam música e construíam uma nova vida no Rio. Atualmente, a herança africana ainda desempenha um papel enorme na cultura carioca, como no carnaval; religiões, incluindo umbanda e candomblé; no samba; e certos alimentos como a feijoada.

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